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Residência Artística

Fazenda

O primeiro território que acolheu o Hacklab foi o Quilombo da Fazenda, na cidade de Ubatuba, litoral norte de São Paulo.

Natalina, Cida e Carmem foram as mestras que compartilharam saberes sobre as memórias e os fazeres da arte de tecer a taboa, e também sobre o lugar.
Somaram-se a esse encontro o grupo de jovens que tocam jongo na comunidade, proporcionando experimentos que envolveram: tramas de taboa, fitas de LED endereçável, sensores de som, tambores e projeção.
Mestras e artistas desenvolveram em conjunto uma trama entre a lógica dos padrões tecidos em fibra de taboa e a lógica dos padrões de desenhos visuais feitos com código e LEDs.
“Todo o processo de troca foi transformador. Vou guardar comigo a memória das mestras que compartilham seus saberes da maneira mais sincera e empática possível, sabendo que o importante do conhecimento é transmiti-lo e não guardá-lo. Essa primeira parte da residência representou uma materialização de ideias e ideais que já vinham germinando em mim — de que não existe sabedoria do futuro que não seja arraigada no presente e no passado, e que os tempos sempre se cruzam", compartilha Guilherme Vieira, artista selecionado para a etapa do Quilombo da Fazenda.

Caçandoca

Nos dias vividos no Quilombo da Caçandoca, o Hacklab contou com a participação de dois artistas: Chris Tigra e Negalê Jones.

Lá, estivemos pertinho, dentro da casa, do ateliê e das memórias da dona Neide, uma mestra que conhece muito sobre seu território, é artesã de diversos tipos de matéria-prima e também conhecedora das ervas medicinais e das plantas que ela cultiva.
A Caçandoca está localizada em Ubatuba, no extremo sul da cidade e pertinho do mar. Trata-se de um território composto por muitas histórias que permeiam seu reconhecimento, titulação e a permanência na luta pela terra e pelo modo de vida tradicional. A comunidade é o primeiro quilombo do Brasil que foi reconhecido em áreas marítimas e vive do turismo, do artesanato, da pesca e também da articulação comunitária pela luta organizada que busca garantias de direitos.

Por estar localizado à beira-mar, esse território atravessa uma série de desafios impostos pela especulação imobiliária e pelo turismo de massa que chega por lá e, ainda assim, mestras e mestres do lugar guardam as tradições culturais e promovem o turismo de base comunitária como forma de manter o protagonismo das ações na comunidade.
“A Caçandoca expandiu meus pontos de vista e agora é uma influência constante em meu trabalho. A luz da lua refletida no mar daquele lugar me deu novos horizontes. A Caçandoca me deu permissão para lidar com a terra em minhas criações. A mestra me ensinou a trançar e colocou uma flor em minha espada de palha. Ela também me ensinou muito sobre plantas de cura. A mestra me mostrou a profundidade das brincadeiras infantis quilombolas e a sutileza da transmissão do conhecimento oral. Parte de meu trabalho assume um lado de grandes proporções depois de ter convivido com dona Neide", compartilha Negalê Jones, artista que inspirou a criação do projeto Lab Quilombola e que foi selecionado, junto com os demais, para vivenciar esses percursos.
Junto com Negalê, Chris Tigra e dona Neide formaram uma triangulação durante a imersão. O mergulho nas experiências e propostas artísticas de cada um se encaixou com a natureza e as histórias do lugar. “Memória é coisa viva, se move com a gente. O lab ativou um movimento expandido que foi — e continua sendo — o encontro entre mestra Neide, Negalê Jones e eu, frutíferos por conta de tanta coisa indizível e muito bem influenciados pela junta no território onde rio cruza com mar", conta Tigra sobre o processo vivenciado na Caçandoca.

De acordo com a artista, essas vivências, quando entram em nós, ecoam projetando o futuro e as construções que virão.

Cafundó/Caxambu

Localizado no interior de São Paulo e fundado em 1888, o Quilombo do Cafundó guarda, em suas tradições orais, a sabedoria de uma língua africana que se constituiu no Brasil, chamada de cupópia.

Lá também se dança jongo com o grupo Turi Vimba, e as roças agroecológicas são referências para muita gente que ouve falar desse território.

Seus festejos celebram a religiosidade afro-católica, e a organização comunitária se fortalece a cada dia, recebendo visitas, promovendo encontros e levando suas histórias para outros cantos do Brasil.
Regina Pereira é a mestra, erveira, liderança política e artesã que esteve conosco na residência artística. Ela trabalha com estamparia botânica feita com as plantas tradicionais da comunidade, por meio de uma técnica artesanal que desenvolveu. Além disso, é conhecedora das plantas medicinais do quilombo.
Nos dias passados junto com o povo do Cafundó, além das trocas com a mestra Regina, conhecemos também os griôs Marcos e Jovenil, guardadores da língua da cupópia — um saber que se consolidou naquele território através do tempo e que a comunidade luta para manter.
Começo - meio - começo, como diz Nego Bispo.

“Quando mergulhamos em uma fonte tão profunda e sofisticada de saberes ancestrais, é impossível voltar ao mesmo. A afirmação e a luta, a resistência e a herança espiritual, a terra e o poder do fogo. O amor e a celebração dos que vieram antes. A chama que não se apaga. A magia e o respeito aos fundamentos do solo sagrado. Difícil descrever sentimentos que ainda estão germinando. Só sei agradecer", conta Felipe Nunes, artista que participou do Hacklab no Quilombo do Cafundó.